Vingadores: Ultimato e o Tempo

João Victor Campos
8 min readMay 8, 2019

Já faz duas semanas que Vingadores: Ultimato estreou nos cinemas brasileiros. Uma estreia como nunca vista antes, tanto para bem dos fãs, quanto para o mal dos demais filmes em cartaz (Porém, não é isso que eu pretendo abordar nesse texto). Para entender o peso desse filme para muita gente, inclusive para mim, é necessário voltar lá para 2008.

No já longínquo ano de 2008, a Marvel lançava Homem de Ferro, o primeiro filme de vários outros que seriam lançados nesses 11 anos da empreitada que é o Marvel Cinematic Universe (ou MCU, para os íntimos).

Ali fomos apresentados a uma versão bem feita e carismática de um dos mais famosos personagens quadrinhescos da Casa das Ideias. Com um bom roteiro, uma direção padrão, mas com a escolha de atores extremamente bem feita, o filme conseguiu se sair bem nas bilheterias e garantir uma sequência.

São diversas variáveis que fizeram Homem de Ferro ser o marco que é, entretanto acredito que nada disso seria possível sem dois nomes: Kevin Feige e Robert Downey Jr. Um por planejar de maneira acertada como começar um universo de filmes coesos entre si e o outro por incorporar o protagonista como ninguém mais conseguiria. Eu não sei você, mas eu não consigo ver outro ator como o Homem de Ferro senão o Downey Jr.

Comigo, a experiência do MCU começou de maneira diferente. Eu não assisti Homem de Ferro, O Incrível Hulk, Homem de Ferro 2 e Thor nos cinemas. Eu até tinha assistido a cenas ou pedaços desses filmes passando na TV e etc, mas foi com Capitão América: O Primeiro Vingador, em 2011, que tudo mudou.

Eu lembro de sair da sala do cinema totalmente impressionado com o que tinha visto. Nada mais do que um pré-adolescente de 11 anos deslumbrado. Eu com certeza devo ter pensado: “Por que eu não dei atenção a esses filmes de super-heróis antes?” A partir dali, eu fui correndo ver os filmes anteriores para me inteirar sobre essa tal “Iniciativa Vingadores” que o Nick Fury tanto falava. Também foi nessa época que eu troquei os quadrinhos da Turma da Mônica e da Disney pelas famosas HQs da Marvel e DC, um amor que levo até hoje. Tudo isso por causa de um filme, hein.

Agora o ano é 2012, o fatídico ano que deveria marcar o final da humanidade segundo o calendário maia. No dia 27/04 de 2012, estreava Os Vingadores. Esse foi um dos primeiros filmes que eu realmente fiquei ansioso para ver nas telonas em toda a minha vida. Convenci o meu pai a pegar emprestado um carro com 10 lugares e levar eu e meus amigos para assistir a primeira reunião da equipe principal da Marvel, já que a cidade que eu morava (e ainda moro, ou não. É complicado…) não tinha cinema.

Eu ainda não consigo explicar muito bem o que foi ver Os Vingadores nos cinemas, com todos os meus amigos, comemorando cada cena, torcendo junto. É uma daquelas situações que ficam marcadas na nossa vida, mesmo parecendo algo tão pequeno. Uma cena que eu tenho bem clara na minha mente é a de estar saindo da sala durante os créditos e perceber que tínhamos esquecido da já famosa cena pós-créditos, voltar correndo para a sala e ficar com aquela dúvida enorme sobre quem seria aquele ser enorme roxo no espaço. Nesse dia, eu com os meus 12 anos, fui apresentado ao Thanos, o vilão cinematográfico que eu mais coloquei expectativas até hoje. Afinal, foram anos esperando ele colocar em prática o seu plano em prática, coisa que só foi ocorrer em 2018 no Guerra Infinita.

Desde Capitão América, eu vi todos os filmes do MCU nos cinemas, mesmo não gostando tanto de alguns, como Thor 2 ou do polêmico Era de Ultron. Não importava de qual personagem seria o filme, eu estaria ali para acompanhar o próximo “episódio” dessa grande, senão a maior, saga cinematográfica.

E o envolvimento não parou nos cinemas. Acompanhar as diversas séries desse universo que estava sendo criado pela Marvel também foi algo bastante divertido. Eu adoro Agents Of SHIELD até hoje, mesmo com seus problemas, com as suas reviravoltas incríveis, e as ligações ora sutis, ora descaradas, da série com o filmes. Amei acompanhar a Peggy em Agent Carter, com um sentimento de pena até hoje por ter durado tão pouco. Passei muita raiva e vergonha alheia vendo Inumanos fracassar na TV, após a Marvel abandonar o projeto previamente cinematográfico para a história. Até as séries menores como Runaways e Manto & Adaga foram surpresas agradáveis, porque eu não esperava grande coisas delas, e as mesmas se mostraram divertidas.

E o que falar das séries Marvel em parceria com Netflix? Se você viveu entre 2015 e 2018 acompanhado a cultura no geral, você com certeza ouviu falar de alguma delas. Demolidor, Jessica Jones, Luke Cage, Punho de Ferro, Justiceiro e o crossover dos quatro primeiros deles, Os Defensores levaram muita gente a sentar na frente de alguma tela e mergulhar na cidade de Nova York do MCU. E aqui cabe falar tanto dos acertos quanto dos erros como o fato de Demolidor ser uma série muito boa e Punho de Ferro ser uma série bastante cansativa.

Agora em 2019, com todas elas canceladas, e com Jessica Jones sendo a única ainda destinada a voltar para uma temporada final, ficam as teorias do que ainda poderia acontecer nas séries, se elas fossem renovadas. Se eu me arrependo de ter visto todas elas? Não, claro que não.

Vamos pular para 2018, com a estreia de Vingadores: Guerra Infinita, a primeira parte da épica conclusão das três fases do MCU (que agora já tem 10 anos). O João daqui é bem diferente do João de 2011. Eu já me encontro na faculdade, maior de idade, com pensamentos diferentes e uma outra visão de mundo. Mas, uma coisa não mudou: Lá estava eu, na porta de um cinema, no dia de estreia. E todo mundo que assistiu a Guerra Infinita pode concordar comigo (ou não, nunca se sabe, né): O filme sabe deixar o seu espectador, principalmente o fã, bem aflito.

Eu admito que já sabia que, de alguma maneira, os personagens que morrem em Guerra Infinita voltariam a vida no próximo filme, afinal, alguns deles já possuíam filmes confirmados para o futuro e claramente eles não iriam fazer filmes de tantos personagens mortos. Sem falar que por ser um produto inspirado em quadrinhos, é claro que os mortos ressuscitam. Não há nada tão quadrinhesco do que matar um personagem para fazê-lo renascer posteriormente.

E agora estamos todos nós no final desse projeto enorme que o MCU se tornou, com Ultimato sendo o topo das bilheterias. Eu saí do cinema com uma sensação meio estranha. Um misto de saudade com o sentimento de dever cumprido, de etapa finalizada. Voltando pra casa pós-sessão, fui refletir que Ultimato também representava o final de uma fase da minha vida.

Foram 8 anos. Muita coisa muda em 8 anos. Minha pré-adolescência e a adolescência se passaram em 8 anos. Ao mesmo tempo que eu sou a mesma pessoa, eu não sou a mesma pessoa. Eu não concordo com diversas coisas que eu falava em 2011, 2013, 2015 e em 2017, até porque gosto de pensar que nós estamos constantemente evoluindo, para bem ou para mal.

Eventos como Ultimato, o final de uma série com diversas temporadas e etc, produtos que demoram anos para serem concluídos nos levam a refletir o passar dos anos. Na vida corrida do cotidiano, o tempo vai passando e a gente nem percebe. A gente não percebe o afastamento de algumas pessoas e a entrada de novas. Não percebemos o nosso próprio envelhecimento diário. Não percebemos que não frequentamos mais alguns lugares que anteriormente frequentávamos. A gente não percebe que a vida é vivida como uma eterna mudança até que chegue a morte. Morte essa que até os personagens cinematográficos que ficamos acostumados a acompanhar precisam passar.

Os filmes da Marvel mudaram muito a minha forma de ver diversas coisas, por mais bobos que sejam. Eu fui virar o fã de quadrinhos que sou, por causa deles. Eu comecei acompanhar os lançamentos cinematográficos com mais atenção porque eu queria saber sempre quando lançaria um novo filme da Casa das Ideias. Até mesmo fiz diversos amigos com conversas que se iniciaram por causa de algum dos filmes.

É meio bizarro, para mim, pensar que filmes como os da Marvel, que não são nenhuma obra-prima ou inovadores, tiveram um papel tão marcante essa fase da minha vida. É nessas horas que todo aquele papo de Indústria Cultural de Adorno e Horkheimer, que tanto vemos nas aulas de filosofia (e no meu caso, em toda a faculdade de Comunicação), perde um pouco a força comigo. Claro que são produtos cinematográficos feitos para lucrar, mas eles se tornaram algo a mais do que isso. Talvez não para a Marvel, não para a Disney, mas, com certeza, para mim.

Não sei quando teremos algo tão grande novamente nos cinemas quanto Vingadores: Ultimato, e olha que 2019 ainda nos reserva o final da nova trilogia Star Wars, mais um filme da franquia Toy Story (se Deus quiser, o último), o remake de Rei Leão, o live-action de Aladdin e etc. E também não sei se esse texto faz sentido para você como faz sentido para mim. Nem sei se ele tem razão de existir. Só sei que foi bom demais acompanhar toda a saga do MCU para chegar até aqui.

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João Victor Campos

Aluno de Jornalismo da UFRJ, apaixonado por vários assuntos e sempre disponível para boas conversas